A estância de Santa Maria Madalena


Capela de Santa Maria Madalena



       No extremo da freguesia de Fornelos e sobranceiro à freguesia de Arca, ergue-se o Monte das Santas, de baixa altitude (256 m.) mas suficiente para nos proporcionar uma deslumbrante vista panorâmica sobre a antiga vila de Ponte de Lima e uma grande parte do vale do Lima, desde as serras por entre as quais o rio corre mais apertado, até às extensas veigas, onde serpenteia mais calmo pelo meio dos campos, antes de se diluir no oceano. O nome desta colina é atribuído, por tradição lendária, a umas mulheres piedosas que aí teriam vivido em penitência, noutros tempos. Como em todas as lendas há um remoto fundo de verdade, os estudiosos apontam para existência de ruínas castrejas, que as obras efectuadas no século XX quase totalmente fizeram desaparecer.

       Acolhendo as sugestões da lenda, a devoção local fez com que se erigisse aí uma pequena capela, dedicada não a várias santas, mas a uma, em concreto, Santa Maria Madalena, e, naturalmente, ao Cristo que ela amou intensamente. Veio daí o nome com que na actualidade é conhecido o Monte de Santa Maria Madalena, ou, simplificando, o Monte da Madalena.

       1. As origens da capela

       Encontra-se no arquivo da Misericórdia de Ponte de Lima o documento que nos esclarece sobre as origens da capela. Com efeito, consta de um livro de notas (isto é, de assentos notariais) do tabelião Lucas de Brito, da vila de Ponte de Lima, ao qual faltam as primeiras e as últimas páginas, mas que tem documentos elaborados entre 1621 e 1624. Por razões que não somos capazes de explicar, este livro foi parar ao Arquivo da Misericórdia, embora apenas este documento lhe diga respeito. A fl. 44 e 44 v.o encontra-se a «Doação que fez dona Inês de Magalhães dona vyuva à fabryqua da capela de Santa M.ª Madanela do monte das Santas».
       Pelo teor do documento se vê que a capela tinha sido construída pouco tempo antes, quando a fundadora já estava viúva. Para garantir a sobrevivência da pequena ermida e a realização de alguns actos de culto, e assim, acrescentamos nós, permitir a sua abertura, de acordo com as leis do direito canónico, D. Inês dotou-a com um dos maiores campos da sua quinta da Rasca.
-
A primitiva imagem que existiu na capela de Santa Maria Madalena


      Falta o canto inferior esquerdo da folha, mas o que resta do documento é mais do que suficiente para conhecermos o seu conteúdo. Ficamos a saber que, na sua residência, situada na vila de Ponte de Lima, em 16 de Abril de 1622, Dona Inês de Magalhães, viúva de João de Magalhães Meneses, fidalgo, perante o tabelião Lucas de Brito, disse que no monte das Santas, junto à sua quinta da Rasca, na freguesia de S. Mamede de Arca, fizera, à sua custa e por sua devoção, uma ermida nova, da invocação de Santa Maria Madalena, e que para a fábrica da dita capela, obrigava o seu campo da Fonte, situado junto à poça existente na mesma quinta, com água de rega, que produzia em cada ano sessenta alqueires de pão, entre milho e centeio, e entregava a sua administração ao prior da igreja matriz da vila”*.

     Após a morte, e certamente em consequência do testamento da fundadora ou por disposição dos seus herdeiros, a administração da capela e dos bens a ela anexos passou para a Misericórdia de Ponte de Lima. No Livro das Capelas e Obrigações desta Casa anno de 1629, embora encadernado dentro de uma capa que diz Capelas e Obrigações desta Casa anno de 1575, regista-se que “Tem esta Caza obrigação mandar dizer duas missas todos o anos per tenção de dona Inês de Magalhães, hũa dellas na sua ermida da Magdanella das Santas na freguesia de Fornellos e outra na Igreja desta S.ta Caza da Mïa en dia de São João Bautista, a das Santas en dia da Magdanella”. Em letra diferente, foram depois acrescentados, na mesma página, os dizeres seguintes: “Tem mais obriguação de mandar dizer esta casa outra missa resada por tenção da dita dona Inês de Magalhães na dita ermida da Magdanela na ermida que está nas Santas em dia da dita Mgdanella per o que deu João Pedro de Morim a esta casa dez myl reaes. A 23 de Maio de 672”.

       Madanela ou Magdanela era o modo como então se dizia e escrevia Madalena. Observe-se curiosamente que já então, segundo este documento, a capela existente no monte das Santas, embora construída em terreno situado no prolongamento da quinta da Rasca, se considerava pertencente à freguesia de Fornelos.


Alçado da fachada principal no projecto de obras da capela



       2. Decadência e renovação.

       No correr dos séculos, a Misericórdia foi mantendo o culto e zelando pela conservação da capela. Numa das suas crónicas publicadas no periódico limiano “Cardeal Saraiva”, o P.e Manuel Dias informa-nos de que, embora ao longo do tempo a Misericórdia fosse perdendo os escrúpulos quanto a legados, por ocasião da festa litúrgica anual, que tem lugar no dia 22 de Julho, “em 1916 e 1917 ainda cumpriu lá o das três missas”, constantes do testamento de Bento da Costa Tição, lavrado em 28 de Maio de 1694.

       Mas foram sobretudo os populares que continuaram a tratar com afecto a pequena ermida e o espaço em que se implantava. Segundo o mesmo autor, nascido ali perto, na casa inicialmente destinada a ser o “hotel” de Santa Maria Madalena, no início do século XX, “quase sempre no domingo de Julho mais perto de 22, subia-se ao Monte das Santas acompanhando o andor de Santa Maria Madalena que saía da Misericórdia. Era dia grande para os “artistas” da Vila que, depois da Missa rezada na ermida, podiam refastelar-se entre altas tojeiras a contas com o farnel familiar, que outras sombras não havia. Alguns anos, como em 1908, contratavam uma banda popular para ajudar com música”.

       A capelinha veio, porém, a cair em tal abandono que em 1924 já não havia condições para aí celebrar a Missa. “Em 1912 – diz-nos o mesmo autor – uma comissão capitaneada por Luís Moreira, alfaiate, (o “Milagrila”) e Claudino José de Lima, marceneiro, e depois por Manuel Martins, do Tribunal, Joaquim Vieira, o das “Máquinas”, Luís e Custódio Armada, funileiros, e João Brandão, comerciante, fez construir um alto muro de suporte aos adros e um terraço para coreto. Desencorajados por peripécias várias, deixaram arruinar a pequena ermida (6 x 3m) de sorte que em 1924 já não havia capela para a missa. Fez-se então um cortejo de carros enfeitados, com o “das ervas” e o “boi bento” para estrear o troço de estrada aberto pela Câmara”.

       Com efeito, em 1923, a Câmara Municipal, sob a presidência do Dr. Adelino Sampaio, fez abrir um ramal da nova estrada de Serdedelo, desde o lugar de Lavradas até ao alto da colina. E, é claro, a abertura da estrada veio aumentar o interesse pela capela e pela estância panorâmica em que se enquadrava.
       
       O Dr. Adelino Sampaio reuniu então à sua volta uma comissão de que faziam parte Francisco Ferreira Pacheco, João Xavier Varela, Claudino José de Lima e Manuel da Silva Braga, cuja missão foi a de dotar o monte com uma nova capela, em lugar mais cimeiro, e de iniciar o melhoramento do espaço que a envolvia. Segundo a mesma fonte, que continuamos a seguir, “diligenciam então a compra da capela da Casa da Boavista, em Moreira do Lima, dedicada a S. Vicente Ferrer, e datada de 1735, pela quantia de quatro contos e meio (Informação do jornal Cardeal Saraiva, de 27 de Maio de 1926). O Dr. Sampaio, que era também Conservador do Registo Civil, congrega a boa vontade dos bons lavradores de Moreira, Sá, Santa Comba e Bertiandos para fazerem a carretada, o que acontece com grande entusiasmo e alegria no 1.º de Maio de 1926, em 162 carros de bois”. Ainda hoje nos emocionamos, ao imaginar esse alegre e enorme cortejo de carros de bois, que os lavradores garbosamente poriam a chiar, como gostavam de fazer, mas que noutras circunstâncias os agentes policiais reprimiriam. Dentro do nicho que preside ao frontão, ainda se mantém a escultura granítica com a imagem do santo dominicano e as inscrições latinas dos dois medalhões que rodeiam a porta de entrada, na fachada principal, afirmam que este foi o primeiro templo erguido em Portugal em honra de S. Vicente Ferrer, por devoção de Bernardino de Azevedo Gama, em 1735.

       O mestre de obras José Manuel Lopes encarregou-se da reconstrução. Em 22 de Setembro de 1929, em procissão concelhia, transferiram-se da vila as imagens que haviam de ficar no interior, e o Arcebispo de Braga D. Manuel Vieira de Matos procedeu à bênção da capela, antes da Missa campal, acolitado por Mons. Pereira Lima. A comissão que organizou a festa da inauguração era constituída por António Bento Malheiro, João Fernandes Lima (Seara), Luís Joaquim da Silva (Colhas) Aníbal Varela, João Xavier Varela e Luís António Velho (Pintor).

       Tudo se fez à custa dos donativos particulares, destacando-se, ainda segundo o registo do P.e Manuel Gomes Dias, as ofertas de António Mimoso (7.700$00), Santos Pinto (4 contos), Dr. Adelino Sampaio (834$40), João Rodrigues de Morais (600$00), Gonçalo de Abreu Coutinho (510$00), António Manso, D. Emília Manso, Duarte Costa e José Guerreiro (500$00 cada). Do Brasil, chegaram 2 contos, resultantes da subscrição aberta por Júlio Pereira, e de uma outra, organizada no Porto pelo Major Manuel Gonçalves Pereira, a quantia de 200$00. O brasileiro pontelimense José da Costa Brito deu uma coutada de monte que lá tinha, para património da capela. De 1926 a 1935, o “Cardeal Saraiva” deu conhecimento de todos os donativos recebidos.
  

       A actual imagem existente na capela


       As novas esculturas do Crucificado e de Santa Maria Madalena, assinadas por A. França, vieram do Porto. A elas se juntou, por razões que não conhecemos, a de Santa Rita de Cássia, “a santa dos impossíveis”, além de uma cópia em gesso da imagem da Senhora de Fátima existente na capelinha das aparições, adquirida por um grupo de devotos, dirigidos por Secundino Vieira, a qual, destruída em 1959 num acidente, foi substituída por uma terracota policroma seiscentista, que representa a Senhora da Soledade, para aqui trazida da igreja paroquial de Fornelos. A antiga imagem de Santa Maria Madalena, durante muito tempo guardada pela Santa Casa da Misericórdia, pode agora ver-se no Museu dos Terceiros, na vila de Ponte de Lima.
         Na organização retábulo do altar-mor, o mestre Calvário, de Ponte de Lima, reutilizou alguns elementos de talha, que estavam guardados num armazém da Misericórdia. Trata-se das peças sobreviventes, designadamente de quatro colunas e de um quadro da Visitação, do que terá sido um excelente retábulo do estilo chamado barroco nacional, executado para a capela-mor da igreja da Misericórdia por Miguel Coelho, um dos melhores entalhadores das primeiras décadas do século XVIII, a que já fizemos referência no livro A Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima no passado e no presente. Miguel Coelho era um artista consumado, mestre exímio da arte de entalhar. Nascido em Barcelos, em 1671, as primeiras obras documentadas que executou foram, em 1709, dois retábulos para a Igreja do Senhor da Cruz, da sua terra natal, para a qual viria a esculpir dois anjos tocheiros. Em 1718, contratou o retábulo de Santa Ana, na igreja do colégio de S. Lourenço. do Porto. Em 1720 fez, para a Sé de Braga, os retábulos do Santo Homem Bom e de S. Francisco, já perdidos; em 1721, o retábulo da capela-mor da igreja de S. Vicente, também em Braga; em 1724, o frontal do altar-mor do Bom Jesus, de Barcelos; em 1727, o retábulo da igreja paroquial de S. João Baptista, em Ponte da Barca; em 1729, o retábulo do Senhor Jesus, agora chamado da Senhora das Dores, da igreja matriz de Ponte de Lima. Em 1732 iniciou a obra de talha dos altares laterais da igreja da Misericórdia de Caminha. Executará, ainda em 1742, a talha da capela-mor de Santa Clara de Guimarães e possivelmente o retábulo da capela-mor da Misericórdia de Monção. Acabou por morrer pobre, em 2 de Julho de 1743 “com todos os sacramentos Miguel Coelho ensamblador e da Vila de Barcelos”, e ser sepultado em Ponte de Lima.
       A par da reedificação da capela, um passo importante foi a transformação do recinto em que a mesma se integra num aprazível jardim, onde é agradável jornadear, e a construção de um edifício de apoio, que nos primeiros tempos se designou pomposamente como hotel, ainda que nunca tenha funcionado a esse nível e apenas nas últimas décadas do mesmo século se tenha transformado em restaurante, no piso superior, e café-bar, no rés-do-chão. Na construção deste edifício foram utilizadas, em parte, as colunas e arcadas setecentistas do claustro interior do antigo edifício da Misericórdia, esventrado para dar passagem à Rua Cardeal Saraiva, agora repartido em dois: aquele onde se mantêm a igreja e a farmácia, e, do outro lado da rua, a Biblioteca Municipal. 

    O "hotel" de Santa Maria Madalena

     A Câmara Municipal assumiu o encargo do arranjo e da manutenção de todo o parque da estância, tendo nomeado para o efeito uma Comissão, constituída pelos Drs. Luís da Cunha Nogueira, Adelino Sampaio e José Benvindo de Araújo, que se ocuparam dessa tarefa a partir de Novembro de 1926. Sob a sua alçada, foram abertos os dois arruamentos que ligam a Capela ao parque ajardinado, e tentou-se fazer o mesmo em relação à plataforma em que assentava a ermida primitiva. Em 22 de Julho de 1937, essa comissão foi dissolvida e a Câmara Municipal passou a cuidar directamente do Monte.
       Para tratar do jardim foi contratado o Sr. Dias, que se ocupou exclusivamente e com gosto dessa tarefa até ao fim da sua vida. Na vertente da colina foi aberto um poço, donde um potente motor bombeava para o cimo a água necessária.
       3. A Confraria
       Durante muitos anos, a administração da capela esteve sob a dependência directa da Câmara Municipal. O P.e Manuel Dias, que viveu neste ambiente durante os anos da infância e da juventude, refere-nos que aí se realizaram grandes festas religiosas com afamadas bandas e concursos originais, mas que, em 1941 a capela foi encerrada aos visitantes por carecer de soalho, sendo o pavimento cimentado em 1942, e que em 1949 o tecto estava a descaliçar, tendo-o a Câmara forrado então de pinho. Em 1952 voltou a haver aí festa, por iniciativa do Dr. Filinto Morais, que dela encarregou um grupo de briosos limianos, o que só em 1960 se repetiria, por devoção de um emigrante.
        Fora dessas ocasiões, os actos de culto, na prática, quase se limitavam à celebração de alguns casamentos, para os quais era necessária a licença da Câmara. Sobretudo por essa razão, na década de sessenta levantou-se uma contenda acerca da jurisdição eclesiástica sobre a capela, que viria a ser resolvida a favor da paróquia de Fornelos, à frente da qual se encontrava o P.e Manuel António de Azevedo. A Câmara Municipal abdicou da autoridade sobre a capela a favor de um nova Confraria, erecta por provisão canónica, dada em Braga a 22 de Janeiro de 1965
       Os estatutos, que receberam aprovação canónica, dada em Braga, a 22 de Janeiro de 1965, foram subscritos pelos seguintes irmãos fundadores: P.e Manuel António de Azevedo, Cónego Carlos Pinheiro, P.e Manuel Gomes Dias, João Augusto Xavier Varela, Dr. Álvaro Rebelo Vieira de Araújo, Joaquim de Amorim, José Joaquim Fernandes da Silva, Amaro de Araújo, António Vicente da Silva Júnior, António Martins de Matos Reis e Adelino de Faria Sampaio. Segundo esses estatutos, a confraria tem a sede na Capela sita no Monte das Santas, de cuja conservação fica encarregada, assim como dos seus adros e ornamentos, podendo promover peditórios inter paroquiais, quer para esse fim bem, quer para a realização duma festividade anual, no domingo próximo de 22 de Julho. Além de sufragar as almas dos confrades já falecidos, compete-lhe satisfazer os encargos e os legados pios que lhe forem confiados.
       A nova confraria já beneficiou a capela com obras de restauro e, no domingo mais próximo do dia 22 de Julho, que está reservado a Santa Maria Madalena no calendário litúrgico da Igreja Católica, tem promovido a realização da festa anual, habitualmente a cargo de uma comissão nomeada para o efeito.
       4. Os clamores
       Antes de concluir, refira-se que, ainda há algumas décadas, a capela era o destino de outra manifestação religiosa, os clamores, que se faziam no verão, quando os anos se revelavam particularmente secos e as culturas agrícolas definhavam por carência da água de rega e por falta de chuvas. Realizava-se então um cortejo – o “clamor” – que partia da igreja paroquial (de Fornelos, embora, mais raramente, também de outras paróquias) em direcção à capela do Monte das Santas, durante o qual, de permeio com outras orações, se repetia, com frequência, um cântico tradicional para essa ocasião. Era convicção geral que, passados alguns dias, a chuvinha benfazeja caía dos céus sobre as colheitas.
       Para ficar para a história, recolhemos esse cântico e o deixamos aqui, com a letra e a respectiva notação musical.

       





* Transcreve-se este documento na íntegra:

Saybam quoantos este publico estromento de obrigasão e doasão d oje em dia pra todo o sempre virem como no ano do nasimento de Noso Senhor Jhesus Christo de myl e seisentos he vymte e dous anos aos dezaseis dias do mês d abril do dito ano nesta vyla de Pomte de Lyma e pouzadas de dona Inês de Magalhais dona vyuva que ficou de Joane de Magalhais de Menezes fidalguo da Caza de Sua Magestade que são nela aomde heu Lucas de Brito tabeliam na dita vyla fuy he asyy em mynha prezensa e das testemunhas ao diante nomeadas pareseo ha dita dona Inês de Magalhais pesoa reconhesida por mim tabeliam e por ela foi dito e dise que hela junto a sua quymta da Rasqua que ten sita na freguesia de Sam Mamede d Arqua do termo desta vila fizera hüa irmida novamente no monte das Santas da dita freguesia por sua devasão da voquação de Santa Maria Madanela e ora ela dita dona Inês de Magalhais fizera a sua custa a dita irmida he não tinha fabriqua da dita capela que he da dita dona Inês de Magalhães fizera na forma da sobredita he obriguava a fabriqua da dita irmida o seu quampo da Fomte junto a posa que está sito dentro na dita sua quimta da Rasqua he he dizimo a Deoa con sua agoa de rega e leva [rá][1] de semeadura des alqueyres de triguo [que ha de] render en cada hum ano sasen[ta alqueir]es de pam tersado milho e sem[teio e confronta do] norte nasente e poente he [sul ... com] todas as mais propriada[des ... ....  da dita quin]ta e devezas con ho quam[po .... .... ...] de riba pelo que pelos [... ... ... ...] dito quampo seja a dita [... ... ... ...]da do que lhe for nesesario [... ... ... ...] do mundo por quan[to] pra iso hobriguava he ipotiquava ho dito quampo e se obriguava por sua pesoa he bënes a senpre fazer a dita ipotequa <boa>[1] e a nunqua ir comtra esa hobrigasão e fabriqua he era comtente que neste modo tomase pose do dito quampo o reverendo prior Miguel Vyegas da Silva da igreja matris desta vila de quem he aneyxa a dita pra que nunqua aja duvida nesta hobrigasão e eu tabeliam como pesoa publiqua estepulante e aseytante a estepuley e aseytey em nome da dita irmida e pra ela pedy os trellados nesesarios e ela dita dona Inês de Magalhais ho mandou dar deste teor e asi ho dise he houtorgou e asinou ela dita dona Inês de Magalhais estamdo presentes por testemunhas a todo o Padre Antonio d Araujo benefisiado na igreja matris desta vila e João Pachequo mansebo solteyro morador nesta vila he a sobredita pose podera outrosi tomar a Padre António Francisco cura na dita igreja de Sam Mamede en nome da dita capela he irmada[1] . Lucas de Brito tabeliam ho escrevi. Dis antrelinha “boa”. Dito tabeliam a escrevi.

[Assinaturas:] Dona Inês de Magalhais

João Pacheco d’Amorim     António de Araújo”